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Towards Home

A casa-família que se vai construindo.

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30 meses

01
Mai12

A Madalena com 30 meses:

 

É muito pespineta. A palavra não existe no dicionário, mas nós usamo-la muito cá em casa para a definir. É a adulteração da palavra pispirreta - tagarela, travessa, irrequieta, espevitada, presumida. A Madalena é assim: não se cala; não para quieta; quando está com outros miúdos, sobretudo mais novos, tem a mania que sabe tudo e quer mandar. 

 

É pespineta, mas é também muito simpática. Mete conversa com toda a gente, conhecida ou desconhecida, e fala, fala, fala. Se estiver mais de 2 ou 3 minutos calada é porque está doente. Quer muita atenção e, se estivermos a falar de um assunto e não a incluirmos, ela pergunta: "Tás a falar de quê?". Se a interrompermos, diz: "Mas eu tava a falar..."

 

É uma menina de quem é fácil gostar por isso, porque fala com todos e é muito viva.

 

Tem bom coração - não gosta de ver ninguém triste. Fica muito preocupada e tenta logo resolver o assunto. Não descansa, enquanto não respondemos que sim à pergunta: "Já tás feliz?". O lidar com a tristeza é um problema. Ela não gosta e não consegue. Prefere mudar de assunto e esquecer. 

 

Também não lida muito bem com a frustração. Se não consegue fazer alguma coisa, faz birra e não tenta resolvê-la.

 

É muito orgulhosa. Custa-lhe sempre pedir desculpa e só o faz porque insistimos. Algo a ser ainda muito trabalhado.

 

Mas não lhe custa nada dizer obrigado.

 

Gosta, claro, e precisa muito de brincar. Fica em stress se percebe que não tem tempo de brincar.

As brincadeiras preferidas são puzzles, livros, embalar e passear bonecos. Cá em casa há "bebés" espalhados por todo o lado, cobertos com as mais variadas mantas. É um vício que tem desde que teve capacidade motora para o fazer: tapar bonecos (e não só) com panos (do pó, da loiça, fraldas, babetes... Enfim, o que estiver à mão). Também gosta muito de ir ao parque, de jogar à bola e de andar de triciclo, mas o ponto forte não são as atividades físicas. 

 

Se eu tivesse que dizer hoje o que ela vai ser, diria sem dúvida que terá uma profissão ligada aos animais. Adora animais e não tem medo, desde que sejam grandes. Enfrenta cães, gatos, porcos, vacas e já se dirigiu sem medo nenhum para todos os animais dos jardins zoológicos e parques biológicos que visitou. Mas, se lhe aparecer uma mosca, formiga, aranha ou outros desses seres perigosíssimos, foge a sete pés e faz um chinfrim.

 

Já é bastante independente, quando quer. Já consegue comer sozinha, ir à casa de banho sozinha (se a sanita for pequenina), despir-se quase totalmente (as camisolas nem sempre saem bem e anda a aprender a lidar com botões), lavar os dentes, as mãos e a cara. O problema é a preguiça. Apesar de conseguir fazer isto tudo, muitas vezes pede para a ajudarmos e nós ajudamos. Por vezes, também é mal mandada - só faz o que pedimos, se estivermos ali de sentinela a ver.

 

Faz birra com sono e com fome. Chora, esperneia e só acalma depois de dormir ou comer. 

Volta, então, a ser tagarela, mexerica e meiguinha.

 

É assim a minha Madalena com 30 meses.

O nascimento da Madalena

16
Out09

Olá,

 

Como já sabem, nasceu a minha filha, no dia 9 de Outubro. Para a posteridade e para quem tiver paciência de ler, vou tentar descrever todos os momentos desse dia.

Nas últimas semanas, acabei por não escrever muito, porque tive cá em casa a companhia de uma tia, que ficou a "vigiar-me" para o caso de acontecer qualquer coisa. Entretanto, fomos à última consulta, onde se verificou que estava tudo bem com a rapariga e comigo e combinar os últimos pormenores para o parto, que seria no dia 12.

Mas... a Madalena decidiu que ninguém marcava nada na vida dela e que ela é que iria nascer quando lhe apetecesse.

Assim, no dia 9, quando o pai se levantou, para ir trabalhar, eu decidi ir à casa-de-banho, quando, para minha surpresa, apareceu uma ligeira mancha de sangue. Depois de muito pensarmos, devido à falta de mais sintomas, lá decidimos ir até à maternidade por descargo de consciência.

Quando chegámos lá, fui vista por uma enfermeira que me mandou comer para depois fazer registo de CTG. Assim fiz e, após o registo, fui vista por um médico que achou que, devido à placenta prévia e ao adiantado da gravidez, não valia a pena esperar mais e disse para o pai ir buscar as malas ao carro. Ainda brinquei com os médicos e pedi para ir fazer a depilação e a manicure que tinha marcado para a tarde. Eles riram-se e disseram-me para fazer essas coisas para o pai, porque eles não precisavam e que eu tinha de ficar ali para receber a Madalena. Confesso que fui apanhada de surpresa, ainda liguei à minha GO, mas ela concordou que era melhor eu ficar. Nesta altura, estávamos os 2 meios aparvalhados sem perceber muito bem que já era nesse dia que íamos conhecer a Madalena.

O pai lá foi buscar as malas, enquanto eu aguardei para depois subirmos. Pediram-me para separar as coisas para a sala de partos e identificaram as malas que mais tarde foram ter ao meu quarto.

Fomos então para o 2º piso da maternidade, onde aguardaríamos por vez no bloco. O N. esteve sempre comigo. Estava a ser um dia agitado (soubemos depois que nasceram 18 bebés no mesmo dia). Deram-me a bata maravilha para vestir, tiraram-me sangue para análise e fizeram-me um restinho de depilação - que eu já andava a fazer a cera há tanto tempo para no fim acabar por ser com gilete :( . 

Esperei, então, deitadita numa cama e a passar fome e sede. Fui avisando por telemóvel que a bebé ia nascer e estava quase a adormecer, quando me sinto muito molhada. Pensei que seria sangue, mas afinal não era. Tinha rebentado a bolsa das águas, para minha grande surpresa, visto que não sentia mais nada. Pedi ao N. que avisasse a enfermeira, que chamou logo uma obstetra para me ver. Esta recusou-se a ver-me, devido à placenta prévia. A enfermeira fartou-se de mandar vir com ela e acabou por me ver ela e contactou com outros obstetras, confirmando que estava tudo bem e que podia aguardar mais um pouco, desde que não aparecesse sangue. Isto eram cerca das 2 da tarde. Ligaram-me ao CTG  para ir confirmando que estava tudo bem com a Madalena e comigo. No entretanto, comecei a sentir algumas contracções, mas sem grande dor. 

A anestesista veio falar comigo, apresentou-se e explicou-me quais os procedimentos por que ia passar. Disse-me que estávamos à espera do resultado das análises.

Pouco depois chama-me para ir para o bloco e põem-me numa maca com o carapuço na cabeça. Já estava tudo preparado, quando a anestesista volta e diz que o resultado de uma das análises vinha alterado e que, assim, não me dava epidural. Disse-me que, se eu quisesse esperar, faziam de novo  a análise, visto que era um valor facilmente alterável e, sendo que durante toda a gravidez eu tinha tido o resultado normal, o mais provável era que este resultado fosse falso. No entanto, deixou-me escolher e, se eu quisesse ir naquela hora, ela dava-me anestesia geral. Eu preferi esperar e fazer epidural.

Assim foi. A análise não demorou muito e pouco depois chamaram-me de novo.

Lá fui eu, numa cena  tipo filme, levaram-me por um corredor até ao bloco. Mesmo antes de entrar, deixaram-me despedir do N. 

No bloco, os médicos e enfermeiros foram muito simpáticos e estiveram sempre a meter conversa comigo, enquanto me explicavam tudo o que se passava. A anestesista demorou bastante a dar a epidural e mesmo assim não pegou bem. Quando começaram, eu estava a sentir alguma dor. Por isso, acabaram por me adormecer. Quando acordei, já a Madalena estava a chorar no quarto ao lado. Eu estava a dizer ao médico que ela vinha programada para não chorar e ele disse-me: "Pela amostra que eu estou a ouvir ali ao lado, acho que não vai ter grande sorte!" Só aí é que eu percebi que era o choro da minha filha. Ela chorou!! Estava viva e saudável! Logo a seguir, trouxeram-ma e eu chorei feito uma Madalena. Não consegui dizer nada... só vê-la. 

Levaram-na para o pai, acabaram de me tratar e, quando me vieram buscar ao bloco, deram-ma de novo e eu tornei a chorar. À saída, estava o pai à nossa espera e eu só conseguia pensar que tinha a bebé mais linda do mundo e que a minha família era um espectáculo.

A Madalena vinha cheia de fome e eu dei-lhe logo de mamar. E assim, ficámos os três, para sempre.

Só posso dizer estas coisas que são lugar-comum. Mas a verdade é que ter a nossa filha nos braços é a melhor sensação do mundo, é ter a certeza de que é impossível haver amor maior e que mais nada importa.

A partir desse momento, as preocupações todas que eu tinha desapareceram. O querer ter parto normal, o medo da cesariana, o querer vê-la nascer, o querer que o pai lá estivesse - tudo isso não se concretizou e não teve importância nenhuma perante a enormidade do olhar para a nossa filha.

Queria deixar aqui um agradecimento a todo o pessoal da Maternidade Bissaya Barreto que me acompanhou. Desde a entrada nas urgências, às dificuldades do pós-parto (que não foram pêra doce), aos problemas com a subida do leite, todos os que estiveram comigo - médicos, enfermeiros e auxiliares -  foram 5 estrelas. Muito pacientes, compreensivos e carinhosos. Eu que tinha algum medo por a maternidade já ser um pouco velha e por achar que o pessoal era meio antipático, acabei por ser surpreendida muito pela positiva. Tive tratamento de luxo. 

Hoje, ao olhar para a minha filha que dorme aqui ao meu lado, que nasceu depois de tanto sofrimento - de ter perdido 2 bebés e de ter passado por uma gravidez de risco sempre com o coração nas mãos -  sei que tudo valeu a pena e que estou maior e sou melhor pessoa.

Ao meu outro grande amor, agradeço a paciência, o carinho e a dedicação a mim e à nossa filha. A nossa família é linda e a harmonia do nosso amor está cada vez mais sólida e mais resistente. 

A quem me acompanhou neste blog até aqui, agradeço a companhia e a força que me deram e peço desculpa pela lamechice deste texto, mas este é um dos momentos na vida em que eu tenho de me render mesmo à lamechice.